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Santista perdeu hábito de comprar no Centro
O presidente da CDL/Centro, Amadeu Lousada, entende que o fato de muitas pessoas trabalharem e não consumirem no bairro não está exclusivamente ligado à qualidade das lojas. Para ele, o santista ‘‘perdeu o hábito de comprar no Centro’’.
‘‘Agora, os clientes mais antigos estão começando a voltar, pois estão vendo que muitas lojas estão se modernizando. Estamos em franca recuperação. Só que este é um processo lento’’, avalia.
Lousada não concorda com as pessoas que criticam a falta de opções de compra no Centro. Segundo ele, as quase mil lojas existentes oferecem produtos variados, para todos os bolsos e gostos.
Além disso, lembra que o Centro está despertando para o turismo, o que também impulsiona o comércio.
‘‘Só falta mesmo uma universidade para atrair também o público jovem, que hoje, inegavelmente, tem preferência pelos shopping centers’’.
Trabalhar, trabalhar e… trabalhar.
É isso o que milhares de pessoas fazem no Centro todos os dias. São promotores, juízes, vereadores, funcionários públicos municipais, estaduais e federais, despachantes, advogados, jornalistas, secretárias, empresários, bancários… Enfim, uma massa operária com alto potencial de consumo, mas ainda mal explorada pelo comércio do bairro.
Boa parte desses profissionais usa o Centro apenas como um escritório.
Na hora de comprar roupas, por exemplo, não hesita em procurar um shopping center perto de casa. Comodidade? Pode até ser. Mas não é só isso. Com raras exceções, o comércio do Centro ainda não está preparado para lidar com um público, em parte, de médio e alto poder aquisitivo.
Para o especialista em estratégias de marketing José Alberto Claro, o comércio da região central popularizou-se em demasia nos últimos anos. A tal ponto que o popular se transformou em bagunça.
‘‘Em geral, o que se vê são lojas com fachadas e vitrines extremamente mal cuidadas, com pouco ou nenhum conforto para o cliente. Sem contar aquele som alto na porta da loja, com alguém gritando no microfone, ou o vendedor praticamente puxando o consumidor para dentro da loja. Esse tipo de coisa espanta muita gente’’, afirma.
Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Amadeu Lousada admite os problemas citados pelo especialista, embora entenda que a situação está melhorando. E acrescenta que a presença excessiva de ambulantes ocupando as calçadas ‘‘pega mal’’ para o Centro. ‘‘Nós tentamos conscientizar essas pessoas, mas é difícil. E tem gente que realmente se sente incomodada com isso’’.
É o caso do advogado Rogério Bassili. Dono de um escritório na Rua Riachuelo, ele usufrui diariamente de diversos serviços no Centro, como estacionamentos, restaurantes e agências bancárias. No entanto, sempre deixa para fazer compras em um shopping do Gonzaga. ‘‘Como consumidor, me sinto melhor tratado. Além disso, no shopping encontro mais opções e produtos de melhor qualidade’’.
Horário comercial
Outro motivo que leva o trabalhador do Centro a consumir em outros bairros é o horário de funcionamento das lojas. Muitas fecham logo depois das 18 horas, quando as pessoas estão deixando o serviço.
Funcionária do Fórum, Andréa dos Santos diz que recorre ao Gonzaga para fazer compras por falta de opção no bairro onde trabalha. ‘‘Saio às 19 horas e as lojas estão quase todas fechadas. Se estivessem abertas, certamente compraria aqui, pois os preços são mais baixos’’.
É justamente no quesito preço baixo que o Centro se destaca. Segundo José Alberto Claro, as lojas populares atraem um público que não é fiel a grifes famosas e nem se importa de adquirir um produto de qualidade inferior. Basta gastar menos.
Estagiária de um escritório de advocacia, Mariana Ramires Lacerda descobriu que é possível se vestir bem comprando nas lojas do Centro. Depois que começou a trabalhar no bairro, deixou o conforto do shopping de lado. ‘‘Em alguns casos, a qualidade é a mesma, com a vantagem de o preço ser quase sempre menor’’.
Especialista aponta três questões que precisam ser aprimoradas
O especialista em estratégias de marketing José Alberto Claro acredita que o comércio do Centro precisa se preocupar mais com três questões básicas para atrair novos consumidores.
O primeiro ponto é a aparência das lojas. Ele diz que muitos comerciantes ainda atuam de forma amadora, por exemplo, na arrumação das vitrines.
‘‘No comércio, a vitrine é tudo. É em frente à vitrine que o consumidor decide se vai ou não comprar determinado produto. Se ela estiver com uma apresentação ruim, a pessoa não compra’’.
Claro também considera inadequadas as estratégias de venda usadas por algumas lojas.
‘‘Colocar alguém falando alto em um microfone pode até atrair o consumidor mais popular. Mas espanta definitivamente um profissional de alto nível’’.
Depois de investir no visual e nas estratégias de venda, Claro entende que os lojistas deveriam se preocupar em fortalecer as marcas comercializadas no Centro, ainda que não sejam famosas.
‘‘Eu observo que nas lojas do Centro predominam marcas locais. E o comércio não se preocupa em valorizar essas marcas, ao contrário dos shopping centers’’.
Se um visual novo e bem organizado é fundamental para ganhar o cliente, algumas lojas do Centro estão saindo na frente para conquistar os consumidores. É o caso da Paramount, especializada em moda masculina, e da Samir, que vende bolsas, malas e carteiras.
Na Paramount da Rua Frei Gaspar o visual é levado tão a sério que o dono deixou o ambiente interno idêntico ao da loja que tem shopping.
‘‘Está tudo padronizado’’, comenta a gerente Márcia Regina Velloso.
‘‘O cliente que entra aqui encontra exatamente o mesmo que encontraria no shopping. Muita gente até pergunta se a loja é nova’’.
A Paramount está completando 70 anos no Centro. ‘‘É que antes ela estava com o visual meio apagado. Agora, as pessoas passam e reparam’’. O comerciante Samir Cheda também resolveu mudar a cara de sua loja, na General Câmara. Há 20 anos ocupando o mesmo ponto, ele concluiu no mês passado a primeira grande reforma que o estabelecimento recebeu. Trocou piso, teto, luminárias, vitrines e prateleiras, num investimento superior a R$ 30 mil. ‘‘Acho que essa é a única forma de chamar a atenção do cliente’’, acredita.
O comércio do Centro tem hoje um perfil basicamente popular, mas está em transição. Esta é a opinião do secretário de Planejamento e vice-prefeito, João Paulo Tavares Papa.
Ele lembra que durante muito tempo o bairro foi o único pólo comercial da região, que atraía até consumidores de cidades vizinhas. No entanto, com a chegada dos shopping centers e o surgimento de novos pólos comerciais, o comércio do Centro perdeu força.
‘‘Aos poucos, o potencial do Centro está sendo recuperado. Ao mesmo tempo em que há lojas populares, há excelentes joalherias. O fato é que no bairro há espaço para tudo’’.
Embora não possua dados estatísticos, Papa não tem dúvidas de que o Centro reúne a maior massa com poder de consumo da Cidade. E sugere que entidades que representam o comércio desenvolvam uma pesquisa para conhecer melhor este público.
‘‘A Prefeitura poderia colaborar com esta pesquisa. Seria interessante saber por qual motivo as pessoas não consomem no Centro e quais são os desejos dessas pessoas’’