blog

As mídias sociais nos unem ou nos dividem?

A mídia social nos une ou nos separa?

O que você vai encontrar nesse conteúdo:

Temos a impressão de que a Humanidade (conectada) está em um período de discórdia tóxica e acho que é muito fácil ver que as plataformas de mídia social são um fator que contribui fortemente para isso. Talvez,  seja o fator definidor. Em um recente estudo interno, o próprio Facebook (e outras mídias sociais são parecidas) mostrou que 80% das pessoas que entraram para algum grupo extremista na plataforma foram sugeridas pelos próprios algoritmos da própria empresa.

Quando comecei a usar a internet (início dos anos 1990), eu esperava  que essa tecnologia fosse um lugar unificador que contribuísse para a compreensão de diversas visões, enfim, a Paz Universal. Em vez disso, fatos recentes estão mostrando que estamos em uma rota de colisão entre as tribos com ideias semelhantes, cercados de vozes que confirmam nossos próprios preconceitos e que ignoram as vozes divergentes. Pior: as “cancelando”. 

Queremos mais privacidade!

Além disso, é crescente a tendência por mais privacidade tanto em conversas com outro indivíduo como em grupos de pessoas próximas (ou não). Isso se deve ao reflexo de uma espécie de fadiga de exposição e de postagens alheias e sem nexo nas redes sociais, aliadas a uma distribuição de fake news incessante, tão comuns no Instagram, no Facebook e no WhatsApp. A meu ver, esse movimento estaria tirando a importância dos feeds, criando novas formas de interação. 

Portanto, a questão permanece … 

As mídias sociais podem nos unir em vez de nos dividir?

Escrevo este meu pequeno texto retórico sobre esse tema, bem como algumas tendências não óbvias que surgiram durante momentos epidêmicos. 

Aqui vamos nós … 

Calma que lá vem polêmica

Temos assistido as plataformas das redes sociais censurando/banindo pessoas e organizações por todo o planeta. De todas as correntes políticas ou ideologias. Não podemos opinar de forma superficial em assunto tão complexo. Precisamos nos embasar analiticamente diante desses ocorridos e refletir bastante para entender melhor essa situação que atende a todos nós.

Já mencionei por aqui que a plataforma é a dona do seu perfil e faz com ele o que quiser. Até te banir se ela achar que deve. Isso é censura? Até onde podemos ir com a nossa liberdade de expressão nas redes sociais? E qual o limite para essas empresas? O entendimento que cada um tem sobre isso não é uma unanimidade, mas nos faz pensar e nos força a entender que nenhuma resposta é 100% correta.

Lembro que as plataformas (Instagram, Twitter, Facebook, TikTok, entre outras) são empresas privadas que possuem seus próprios termos de adesão e contratos (aqueles que possivelmente nenhum de nós lê com muito afinco). E eles avisam: aceita ou sai fora. Se você aceitar os termos e não os violar, voilá, você pode usar à vontade essas ferramentas. Mas se você achar que não deve concordar, ou pior, quebrar as regras lá colocadas, você está fora. Eles podem te deletar. 

O problema, segundo meus amigos especialistas em direito, é que, às vezes, esses termos são baseados em subjetividade e podem ser desenvolvidos com um viés ideológico (não importa qual ideologia).

Em alguns países, como nos EUA, as pessoas ou empresas que se limitem a transmitir conteúdo de terceiros na internet não podem ser responsabilizadas legalmente pelo que ali for publicado.  A exceção fica por conta de elas não podem usar isso para não apagar conteúdos que constituem crime ou que violem a propriedade intelectual. Eureka: assim ninguém pode dizer que houve agressão à liberdade que cada um tem de se expressar quando são banidas publicações racistas ou que contenham pornografia infantil, por exemplo.

A liberdade de expressão, apesar de ser um princípio fundamental (ou deveria ser), não é ilimitada. Aí entram os ramos do Direito para discutir isso e atesto minha ignorância nisso. Deixo para o pessoal da área nos esclarecer sobre isso.

Mas concordo com o fato (excluindo-se o que é crime) não deveria ficar só com a plataforma o poder de decidir quem pode ser banido ou não. Deveria ir todo mundo para o Judiciário e que lá se entendam.

Tenho para mim que qualquer tipo de segregação é péssima para nossa liberdade individual, além de se tratar de uma censura prévia.

As plataformas mandam em tudo?

Não fosse o tamanho dessas empresas que são as donas das plataformas de mídia social, nada disso estaria acontecendo. Elas são poderosas. O poder dominante, especialmente do Facebook, deixa essas corporações em destaque em virtude do seu tamanho e da importância mundial que possuem as coloca como responsáveis perante a sociedade de uma forma diferenciada.

Tolerância para mim, tolerância para você

Tolerância nos dias de hoje representam um paradoxo. A sociedade aberta não pode ser tolerante a ponto de permitir que os inimigos dessa mesma sociedade usem seus instrumentos para destruí-la. Devemos, portanto, ter um limite, em uma democracia, para a livre expressão.

Devemos abandonar as mídias sociais?

Estamos assistindo a algumas marcas darem adeus aos likes. Principalmente as marcas voltadas para o luxo que resolveram deixar de ter presença em redes sociais

Elas apostam que ter mais contato humano e construir narrativas construídas para além do digital são a tendência de comportamento de consumo do segmento de luxo, especificamente. O luxo se baseia em valor entregue e no gatilho da escassez/inacessibilidade, excelência em design e utilização de uma matéria-prima de alta qualidade. Portanto, fugir das mídias sociais é natural. O inacessível não é só o preço do produto, mas como interagimos com a marca também. E, para essas marcas (e para muitos de nós), os likes em mídias sociais já não são parâmetro de sucesso, recorde de vendas ou fluxo de caixa.

Vivemos uma fase na qual estarmos online ou simular uma vida de influencer virou algo tão comum que um modo de vida mais offline ou com privacidade está se tornando um desejo de consumo. Sugere-se que o valor do luxo vai estar no que é humano e na possibilidade da troca e interação na vida real.  

Como fazer isso em tempos de pandemia e isolamento social? 

O contato humano se torna, nos dias de hoje, uma tendência de comportamento de consumo. Há a percepção em algumas pesquisas que à medida que mais telas aparecem na vida dos mais pobres, elas estão desaparecendo da vida dos mais ricos. Há a possibilidade de que quanto mais rico você é, mais gasta para ficar fora da tela.

Se antes o uso excessivo das redes sociais era apontado como um ponto de incômodo para esse público, imagina então na quarentena que tudo ficou ainda mais intenso. Há inúmeros exemplos de pessoas com grandes fortunas ou relacionadas com monarquias que decidiram deixar as redes sociais e não querem mais saber  de voltar a elas. Somente quando for estritamente necessário.

A era do cancelamento

Na era do cancelamento, precisamos repensar a influência! Com tanta desinformação rolando solta por aí, os influenciadores começam a ser vistos de outra maneira pela sociedade. Estamos assistindo ao surgimento dos “influenciadores genuínos”. Criadores que junto com o seu conteúdo passam a compartilhar informações sérias e verdadeiras (o que deveria ser apenas o básico, não é mesmo?). É urgente que essas pessoas assumam a responsabilidade pelo que fazem ou dizem.

E isso não é só para os influenciadores, as marcas também precisam repensar a sua atuação.  Os “cancelamentos” nos fazem falar de responsabilidade e responsabilização, falar sobre qual é o nosso papel na sociedade digital, para usar essa relevância com mais responsabilidade. E, se a pessoa não se preocupar com isso, poderá ser responsabilizada. A essência do cancelamento é essa. 

E as marcas também estão sofrendo com isso. Nós, enquanto consumidores, esperamos marcas engajadas em causas sociais e que trabalhem com propósito.

E os cancelamentos? A internet se tornou uma vitrine e as pessoas e marcas que estão nela se submetem ao julgamento, seja por atitudes recentes ou não. E a pergunta que hoje muitos profissionais de marketing escutam é: como não ser cancelado e o que fazer em caso de cancelamento? Foi cancelado? Respire fundo e  antes de tudo, esteja aberto para entender o seu erro. Só então, se posicione, admita o erro, se mostre aberto para sugestões, mantenha suas promessas, e mostre a mudança por meio de atitudes, e não só de palavras.

Pensadores nos dizem que acabou a era dos influenciadores, mas ainda fica a influência. Fica o conteúdo, o cuidado, a responsabilidade e a relevância. Conteúdo bem trabalhado, bem editado e acima de tudo verdadeiro. Baseado na realidade do mundo hoje. O presente do conteúdo que influencia é coletivo. Feito por todos e para todos. Com verdade e diversidade. O futuro que se avizinha será exigente com todos nós.

Pense muito nisso.

Prof. Alberto Claro

Doutor em Comunicação Social; Professor de Administração da UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo; Investidor-anjo em empresas de tecnologia, entretenimento e gastronomia; Diretor de Comunicação (voluntário) da Casa da Esperança de Santos®; Palestrante nacional e internacional na área de Administração, Comunicação e Marketing.

Gostou do conteúdo? Compartilhe!

COMENTÁRIOS